A safra 2025/26 se desenha como uma das mais desafiadoras dos últimos anos, segundo analistas do setor. Tensões geopolíticas, riscos logísticos e a retomada de políticas protecionistas impactam diretamente os custos e as margens da produção agrícola brasileira.
Mesmo com a previsão de uma produção robusta, o cenário global impõe limitações. Os custos devem permanecer elevados, impulsionados pelos conflitos no Oriente Médio e pelas barreiras tarifárias crescentes nos Estados Unidos. A sinalização recente de medidas comerciais mais rígidas por parte do governo norte-americano gera insegurança nos mercados e pressiona as cadeias produtivas.
Fertilizantes e fretes sob impacto geopolítico
Apesar de uma aparente trégua no Oriente Médio, a instabilidade continua afetando setores estratégicos. O Irã, um dos principais fornecedores de ureia ao Brasil, ainda opera sob alerta logístico. Com isso, os preços do petróleo e do gás natural seguem pressionados, elevando os custos do frete e de insumos essenciais para o agronegócio.
A valorização do petróleo, por exemplo, tem impacto direto no preço dos fertilizantes, encarecendo o plantio antes mesmo do início das atividades em campo. A volatilidade no transporte marítimo e nos insumos agrícolas compromete o planejamento financeiro do produtor e aperta as margens operacionais.
Tarifas dos EUA aumentam a pressão sobre exportações
Outro fator que pesa na balança é a nova ofensiva tarifária dos Estados Unidos. Está prevista para agosto a aplicação de uma tarifa de 50% sobre uma série de produtos brasileiros, incluindo carne, café, soja, milho e suco de laranja. Como os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras, qualquer barreira nesse canal representa perdas expressivas para o setor.
Além disso, permanece o risco de novas sanções à Rússia, caso o conflito com a Ucrânia se agrave. Isso ampliaria a instabilidade nos mercados internacionais e afetaria o equilíbrio da oferta global de grãos e fertilizantes.
Juros altos e crédito restrito aumentam os custos
Mesmo com a inflação em queda, os juros ainda se mantêm em patamares elevados. O crédito rural segue restrito, o que dificulta o acesso a financiamentos para custeio e investimentos.
Estimativas indicam que o custo da soja na próxima safra poderá alcançar R$ 5.725 por hectare, enquanto o milho pode chegar a R$ 4.706 por hectare. Em comparação com a safra 2020/21, quando a margem do produtor de soja era de 176,5%, espera-se uma queda significativa, com projeções de apenas 15,3% em 2025/26. No caso de áreas arrendadas, a situação é ainda mais apertada, já que muitas contas não fecham após o pagamento de sacas destinadas ao arrendamento.
Diante desse cenário, o uso de ferramentas como travas de preço e operações de barter ganha relevância. Essas estratégias ajudam a reduzir riscos e proteger parte da receita esperada.
Clima neutro melhora produtividade, mas derruba preços
A previsão de neutralidade climática para o ciclo 2025/26 pode favorecer a produtividade nas principais regiões produtoras do país. A ausência de fenômenos como El Niño ou La Niña tende a criar condições mais estáveis para o desenvolvimento das lavouras.
No entanto, a expectativa de maior produção pode pressionar os preços, especialmente em um cenário de estoques globais elevados e menor ritmo de importações por parte da China. Assim, embora o rendimento por hectare possa aumentar, a rentabilidade final ainda dependerá da dinâmica do mercado internacional.
Diante de tantas variáveis, informação de qualidade se torna essencial para o produtor rural. A safra 2025/26 será marcada por incertezas, margens apertadas e necessidade de decisões estratégicas bem fundamentadas.