O déficit de armazenagem no Paraná já chega a 12,6 milhões de toneladas, o que representa um risco crescente para a produção de grãos no estado. Segundo a FAEP, o crescimento da safra está superando a capacidade de estocagem, enquanto os juros elevados do Plano Safra 2025/26 dificultam novos investimentos em infraestrutura.
Produção cresce mais que a capacidade de armazenagem
Nos últimos dez anos, a produção de grãos no Paraná aumentou 19,5%, alcançando 44,9 milhões de toneladas na última safra, conforme dados da Conab. Para a temporada 2025/26, a estimativa é de 45,2 milhões de toneladas, o que corresponde a 14% da produção nacional. No mesmo período, a capacidade de armazenagem cresceu apenas 12,8%, somando 32,6 milhões de toneladas em 1.594 unidades e 2.513 silos, de acordo com o Sicarm.
Apenas 4,7% dessa capacidade está localizada em propriedades rurais. Nos Estados Unidos, mais de 53% da estocagem ocorre dentro das fazendas, com estruturas que suportam entre 343 milhões e 367 milhões de toneladas.
Juros altos e falta de incentivo travam novos investimentos
O presidente interino do Sistema FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, alerta que os produtores querem investir, mas os programas governamentais não são atrativos. O Plano Safra 2025/26 destinou R$ 4,5 bilhões ao Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) com juros de 10% ao ano para estruturas acima de 6 mil toneladas. Entidades paranaenses reivindicavam R$ 8 bilhões com juros de 8%.
Para armazéns menores, até 6 mil toneladas, foram destinados R$ 3,7 bilhões, com taxa de 8,5% ao ano. A demanda do setor era de juros de 7%. Pesquisa da CNA feita em 2022 mostrou que 72,5% dos produtores investiriam em armazenagem se os juros fossem menores.
Segundo Luiz Eliezer Ferreira, técnico do Sistema FAEP, os juros atuais inibem a adesão, principalmente num cenário em que os produtores já dependem de crédito rural em outras etapas do processo produtivo. A Associação Brasileira de Máquinas estima que seriam necessários R$ 15 bilhões para atender a demanda nacional, quase o dobro dos R$ 8,2 bilhões previstos.
Armazenagem melhora renda e qualidade dos grãos
Contar com silos próprios garante mais liberdade para os produtores decidirem o momento ideal de venda. Com isso, é possível alcançar preços mais vantajosos e preservar a qualidade dos grãos destinados à exportação.
Ferreira ressalta que, sem armazéns próprios, os produtores precisam vender imediatamente após a colheita, quando os preços estão mais baixos. Com infraestrutura adequada, é possível aguardar por um cenário mais favorável.
Caso prático mostra os benefícios do investimento
Em Goioerê, no Noroeste do Paraná, o Grupo Agrícola Fortis investiu em silos e hoje tem capacidade para 24 mil toneladas. O produtor Sérgio Fortis afirma que o investimento trouxe retorno e controle total sobre a comercialização da produção.
Segundo ele, a armazenagem própria permite negociar melhores preços e evitar descontos cobrados por cooperativas. Com os silos, Fortis consegue vender milho com até 25% a mais do que receberia no balcão das cooperativas. Ele também destaca que consegue controlar a qualidade dos grãos, misturando lotes para evitar descontos por excesso de grãos ardidos.
Burocracia ainda é entrave
Fortis tentou obter financiamento via PCA, mas a lentidão do processo quase o fez desistir. Ele só conseguiu realizar o projeto porque uma cooperativa de crédito local ofereceu as mesmas condições do programa federal.