A geada negra completa 50 anos hoje, sexta-feira, 18 de julho. Esse fenômeno climático que atingiu o Paraná em 1975 destruiu lavouras de café, base da economia estadual na época, e por isso forçou uma transformação profunda na agropecuária. A partir desse marco, a pesquisa científica avançou, e culturas como a soja passaram a ocupar as áreas antes dominadas pelo café.
Antes da geada, o Paraná era o maior produtor de café do Brasil, com mais de 615 mil hectares cultivados. Na safra de 1975, foram colhidas 10,2 milhões de sacas, o que equivalia a 48% da produção nacional. No ciclo seguinte, porém, esse número caiu para apenas 3,8 mil sacas, representando somente 0,1% do total produzido no país.
Soja ocupa o espaço do café
Com a destruição das lavouras e o colapso da cafeicultura em larga escala, os produtores migraram para a pecuária e para culturas mais adaptáveis, como soja, milho e frutas. A soja, em especial, ganhou força e se espalhou rapidamente pelas regiões afetadas.
Na safra 1976/77, a oleaginosa já ocupava 2,2 milhões de hectares no Estado. Hoje, o Paraná dedica mais de 5,8 milhões de hectares à cultura, com produção de 21,4 milhões de toneladas na safra 2024/25. Dessa forma, a mudança de perfil consolidou a soja como principal cultura do agro paranaense.
Pesquisas transformam a cafeicultura
A geada negra coincidiu com a fase inicial do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), hoje IDR-Paraná. Por isso, a tragédia impulsionou o desenvolvimento de novas tecnologias, com foco em sistemas produtivos mais sustentáveis e resistentes ao frio.
A instituição passou a investir em cultivares de porte baixo, adensamento das lavouras, zoneamento agroclimático e monitoramento de massas de ar polar. Em 1994, foi lançada a cultivar Iapar 59, resistente à ferrugem. Assim, o novo modelo permitiu a retomada da produção após a geada de 2000.
Hoje, o Paraná mantém cerca de 25 mil hectares com café, com foco em qualidade e produção familiar. Além disso, a bebida tem conquistado prêmios e se destaca em mercados especializados, mesmo com uma produção muito menor do que nos anos 1970.
Reação imediata e apoio institucional
Logo após o desastre, o Sistema FAEP atuou para levantar os danos e pressionar por ações emergenciais. O governo federal, em parceria com o Estado, criou um plano de socorro que incluiu liberação de seguro agrícola, manutenção de preços e apoio à pecuária.
Apesar das medidas, a mudança de perfil da agropecuária já era irreversível. Portanto, o avanço da soja e de outras culturas mecanizadas marcou o início de um novo ciclo para o campo paranaense, baseado em diversificação, ciência e ganho de produtividade.