A Estação de Zootecnia de Itabela, na Bahia, referência internacional em estudos ambientais, teve suas atividades científicas interrompidas. Isso ocorreu após a invasão de mais de 300 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que cortaram cercas, fizeram ligações elétricas clandestinas e impediram o acesso de servidores.
A estação, vinculada à Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), desenvolve pesquisas sobre mitigação de gases do efeito estufa, manejo de pastagens e sequestro de carbono no solo. Além disso, mantém parcerias com universidades do Brasil, Estados Unidos e Canadá. No entanto, com a ocupação, várias pesquisas em andamento foram interrompidas e correm risco de serem totalmente perdidas.
Conforme relataram funcionários, os danos causados pelos invasores provocaram curtos-circuitos e prejuízos a equipamentos. Como resultado, os servidores ficaram impedidos de acessar as instalações da estação. Importante destacar que esta já é a terceira invasão registrada no local, com ocorrências anteriores em 2022 e 2024.
MST pressiona governo pela retomada de negociações
Segundo nota divulgada pelo próprio MST, a ocupação é pacífica e tem como objetivo pressionar o governo a retomar as tratativas sobre a destinação de áreas federais para a reforma agrária. O movimento cobra o cumprimento de um acordo envolvendo a Ceplac, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) e o Ministério do Desenvolvimento Agrário.
A ocupação integra uma mobilização nacional iniciada no domingo (20), em referência ao Dia Internacional da Agricultura Familiar, celebrado em 25 de julho. Desde então, aproximadamente 17 mil integrantes do MST realizaram atos em 22 capitais brasileiras e cidades do interior. As ações envolvem propriedades privadas, prédios públicos e centros de pesquisa.
Entre os estados atingidos estão Minas Gerais, São Paulo, Paraíba, Alagoas, Ceará, Maranhão, Bahia, Pernambuco e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal. Em Natal, por exemplo, manifestantes bloquearam a BR-101, o que afetou tanto o transporte de cargas quanto a mobilidade urbana.
Reunião com Lula e reação do setor produtivo
Mesmo diante das críticas, representantes do MST foram recebidos nesta quarta-feira (23) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Palácio do Planalto. Na pauta, está a criação de um plano de assentamento para 65 mil famílias acampadas há décadas.
A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Rio Grande do Norte (Faern) criticou as ações, classificando-as como desproporcionais e desconectadas da realidade fundiária atual. Segundo a entidade, propriedades produtivas estão sendo colocadas em risco. O presidente da Faern, José Vieira, associou a intensificação dos protestos ao calendário eleitoral de 2026 e à influência de políticos aliados ao movimento.
A Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) também se manifestou por meio de nota, classificando os atos como atentados ao diálogo democrático. Para o presidente interino da FAEP, Ágide Eduardo Meneguette, as ações comprometem a imagem do Brasil no exterior e afastam investimentos. “Essas ações promovem insegurança jurídica, afugentam investidores e ferem o princípio da propriedade privada, que é a base de qualquer Estado democrático de direito”, declarou.
Invasões impactam inovação e pesquisa agropecuária
Especialistas alertam que invasões como essa comprometem diretamente o ambiente de inovação no campo. Afinal, ao atingir centros de pesquisa, toda a cadeia produtiva sofre consequências. A paralisação de projetos científicos compromete o desenvolvimento tecnológico e pode reduzir a competitividade da agropecuária brasileira nos mercados globais.